sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Histórias da mitologia:vampiros (part.III) Porque o sangue é vida


A história da humanidade vem sendo escrita com sangue.Seu significado,de caráter multidiscursivo,é incontestável,pois abarca noções de família,raça,religião e gênero.  Por ele,animais e pessoas foram sacrificados aos deuses em troca de favores e bênçãos. o sangue derramado de reis e divindades garantia a prosperidade da terra,e beber do sangue dos inimigos permitia a alguém adquirir a força do adversário.Estes rituais de culturas espalhadas pelo mundo evidenciavam o simbolismo associativo do sangue com a alma.

No leste europeu, a palidez e a ausência de calor no corpo,biologicamente decorrente também da ausência de circulação sanguínea,era visto como um sinal do abandono da alma e prova da morte do indivíduo. Não é à toa que entre os saxões da Transilvânia a morte seja chamada de Der Kaltmacher,ou seja,"aquele que traz o frio"

Essa conexão sangue-alma imbui esse fluido corporal de natureza divina,percebida no simbolismo atribuído à cor vermelha,fonte de seu poder,de acordo com a crença folclórica. Devido a esse fato, o vinho tinto foi identificado com o sangue e,na Grécia antiga,era consumido pelos devotos de Dioníosio com um ritual de consumo do sangue do deus. Esta ação encontra paralelo na liturgia católica de consumo do vinho como sendo o sangue do Salvador:"Bebei dele todos,porque isto é o meu sangue", disse Jesus a seus apóstolos. A intrínseca ligação do vampiro folclórico com o sangue se origina nesta visão divina do fluido humano como repositório da alma, algo que o vampiro anseia acessar por não possuí-la.
Essa é uma das razões para a preferência do vampiro em atacar pessoas do seu círculo familiar, de acordo com o folclore: o sangue carrega a história do grupo social. Tal ligação entre o vampiro e seus descendentes foi explorada,respectivamente,no primeiro romance e na primeira novela sobre vampiros da língua inglesa: Varney o vampiro e Carmilla.
Ideias correntes na Antiguidade e que foram assimiladas pelo cristianismo também estão por trás da ligação da mulher com o sangue devido ao ciclo menstrual e ao fluxo de sangue gerado no momento do parto. Segundo a ideia corrente em Roma no primeiro século da era cristã e defendida pelo naturalista romano Plínio o Velho, o sangue menstrual era considerado venenoso a ponto do ato sexual ser proibido,pois os filhos concebidos durante a menstruação seriam doentes,teriam o sangue purulento ou nasceriam mortos. No século VI, o arcebispo Cesário de Arles foi mais longe,ao advertir que manter relações sexuais com a esposa durante a menstruação resultaria em filhos epilépticos,leprosos ou possuídos pelo demônio.
Do mesmo modo,por muitos séculos as mulheres que morriam em decorrência de complicações no parto eram proibidas de serem enterradas como cristãs por estarem impuras pelo sangue expelido. Como resultado,eram sepultadas fora dos cemitérios cristãos,sem direito aos rituais religiosos,e à mercê,assim do mesmo destino dos suicidas e assassinos no que se refere à possibilidade de retornarem como vampiros.
O paradoxo da mulher como provedora da vida e da morte expresso pelo sangue menstrual e pelo fluxo do parto está por trás da idolatria à deusa-mãe dos povos do passado que criava,mas também destruía. Essa dupla face está presente na deusa Kali que era representada como uma criatura que se alimentava da carne e do sangue dos homens,fomentando as primeiras representações físicas dos vampiros. Como visto anteriormente,problemas com o parto e com a morte de récem-nascidos também estão na origem das criaturas vampíricas Litith e Lamia.
Outra figura feminina de ser levada em conta na construção da imagem do vampiro,principalmente na sua representação literária como uma figura aristocrática e de origem eslava. No início do século XVII uma nobre nascida na região onde hoje se encontra a República Eslovaca atraiu,torturou e matou centenas de jovens com o propósito de usar o sangue das mulheres como uma espécie de "cosmético rejuvenescedor".
 Elizabeth Bathory,ou Condessa de sangue,como ficou conhecida ,desenvolveu diferentes métodos sádicos para incutir sofrimento nas suas vítimas e sem novas vítimas para matar,assassinou uma nobre da corte. Todavia,devido a sua posição social, a vida de Elizabeth Barthory foi poupada. Sua sentença foi o aprisionamento dentro de um quarto do seu castelo sem portas ou janelas.
 A história de seus crimes vampíricos foi publicada na Europa Ocidental em 1720 na mesma época em que o leste europeu vivia uma histeria vampírica. Desde então,a história da Condessa de sangue passou a ser associada com relatos de vampiros.
Pra quem quiser saber um pouco mais sobre a Elizabeth Barthory fizeram um filme sobre ela, e o canal Freak TV do Milho Wonka, tem um especial contando a história dela.Confira...

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