Visum et Repertum (1732) foi a obra que levou o vampiro para
o centro dos debates na Era da Razão.Ela tem como palco a região da
Medvegia,uma região da Sérvia. Nos relaos ouvidos por Fluchinger,dezessete
pessoas teriam morrido no ano de 1731 em um curto espaço de tempo em
decorrência dos ataques de um vampiro chamado Arnold Paole. Quando vivo,ele
havia sido atacado por um vampiro na Grécia e após a sua morte o ex-soldado
retornou como um morto-vivo para molestar as pessoas da sua vila.O corpo de
Paole foi desenterrado quarenta dias após a sua morte e, diante das evidências
físicas de vampirismo (conservação do corpo,crescimento de unhas e cabelos, e
presença de sangue no canto da boca),os homens do local esfaquearam o
cadáver,decapitaram-no e queimaram o corpo.
As dezessete mortes ocorridas mesmo
depois da destruição do vampiro foram atribuídas ao consumo de carne de gado
vampirizado por Arnold Paole. O que as pesquisas de hoje mostram é que estes
casos de mortes associadas a vampirismo podem estar relacionados a um dos
vários surtos de peste bubônica que no início do século XVIII assolavam o leste
europeu. Esta doença se espalhava rapidamente entre pessoas de convívio próximo
e pode ter gerado a impressão de que vampiro havia retornado para levar os seus
familiares e amigos para o túmulo. Quanto à aparentemente inexplicável
preservação dos corpos sepultados, a ciência mostra que o intenso frio europeu
por vezes ajudava na preservação do corpo.
Da mesma forma,a presença do sangue
na boca era resultante da decomposição dos órgãos,liverando fluidos pelos
orifícios do corpo. Por fim,pesquisas mostram que algumas funções bioquímicas
do corpo humano, como a troca celular, continuam ativas em um corpo, mesmo após
a morte. Tal fato explica o crescimento de cabelos e unhas nos cadáveres
suspeitos. Essa aparência de crescimento intensifica-se a partir da perda de
água do organismo,o que resulta em uma
retração da pele evidenciando os balos da barba,o cabelo e as unhas. A junção
de todos os fatores criou o vampiro na mentalidade popular.
Uma vez feita a exumação dos cadáveres e da constatação de
características semelhantes às encontradas no corpo de Arnold Paole,
Fluchinger ordenou a destruição de alguns corpos. O relatório detalhado das
investigações confirmando a existência dos vampiros foi apresentado ao
imperador em 1732. A publicação logo se espalhou pelo continente europeu
transformando Visum et Repertum em um
sucesso de vendas e alvo de ataques de outros pesquisadores e teólogos da
época,dentre os quais se destacaram o francês Jean-Baptiste de Boyer, conhecido
como o Marquês d’Argens, e suas cartas Letters Juives (1736), e o italiano da cidade de
Trani e autor do manuscrito Dissertazione
sopra i Vampiri (1744).
Ainda que tenham sido escritos por pessoas de reputação
diametralmente opostas – o Marquês d’Argens era um famoso libertino do Antigo
Regime francês ao passo que Davanzati era uma renomada figura da Igreja
Católica Romana – os dois chegaram a conclusões semelhantes no sentido de
refutar veementemente as conclusões de Johannes Fluchinger e de atribuir os casos
de vampiros do leste europeu como produto de mentes ignorantes e
supersticiosas. As duas obras, no entanto,logo foram suplantadas pelo Dissertations sur les Apparitions des
Anges,des Démons e des Esprits,et sur les revenants, et Vampire de Hungrie,de
Bohême,de Moravie,et de Silésie (1746), de Dom Augustin Calmet, acadêmico
católico francês e o mais famoso “vampirologista” do início do século XVIII.
Nesta obra, que se tornou uma das principais refências para
a criação das convenções literárias sobre vampiros, Calmet incorporou a preocupação
da Igreja Católica com a disseminação das histórias sobre vampiros e decidiu
expor seu caráter supersticioso. Objetivando uma análise racional do tema, ele
reuniu o maior número possível de relatos oficiais e considerações sobre
vampiros da época,incluindo o Visum et
Repertum e o Dissertazione sopra i
Vampiri. Ele definiu o vampiro como um morto-vivo que abandonava seu túmulo
para molestar os vivos, sugando-lhes o sangue. A única solução neste seria
localizar a tumba do suposto vampiro,desenterrar o corpo,cortar-lhe a cabeça
fora, perfurar-lhe com uma estaca e,por fim, queimá-lo.No entanto, apesar das
suas intenções, a profusão de detalhes recolhidos de várias fontes e a incapacidade de prover alternativas para
o fenômeno analisado,levaram Calmet a não refutar de forma decisiva e taxativa
a existência dos vampiros.
Tal fato acabou por alimentar ainda mais o fascínio por
estar criaturas,captando a atenção de poetas e escritores europeus. Alimentando
pelos debates expressos em documentos,tratados e manuscritos de pensadores e
teólogos do século XVIII que o tornou o exemplo mais representativo de várias
criaturas folclóricas espalhadas pelo mundo que se alimentavam de sangue
humano,o vampiro do leste europeu viu na literatura um convite para transpor
suas fronteiras geográficas e culturais e desembarcar nas grandes metrópoles europeias
para começar o seu reinado de sangue.
É incrível como o fato das pessoas não terem conhecimento naquela época, criou tantas coisas na mente deles. O vampiro da primeira foto, nem dá muito medo. Bjus!
ResponderExcluirgalerafashion.com
Nossa bem legal essa história, amo vampiros e todo o folclore sobrenatural oriental, mas realmente não conhecia a história do vampiro Arnold Paole! Gostei muito do post! bjs
ResponderExcluirDe Coturno & Spikes
Nunca tinha ouvido falar nesse "vampiro" sempre que imagino as pessoas matando algum "possivel vampiro" sinto um medinho/raiva rsrs
ResponderExcluirGostei de saber sobre ele, amei as fotos <3
~Querido Coturno~
Muito interessante seu blog!! você visitou o meu a um tempo atrás, eu peço desculpas por não ter passado aqui antes, andava perdida em meus pensamentos, gostei muito das histórias aqui contadas, com certeza voltarei mais vezes ! se estiver interessada em parcerias entre com contato.
ResponderExcluirAtt
Lady Dark