domingo, 7 de dezembro de 2014

histórias da mitologia: Vampiros (origem)


O vampiro vem acompanhando a humanidade desde os seus primórdios,refletindo-se em diversas manifestações da expressão humana,tais como o folclore,a literatura e o cinema. Ele é uma forma inconsciente de se pensar a sociedade através do espelho do além, em um jogo espetacular onde o desconhecido é fonte de medo e prazer. Um jogo cujo início, assim como o próprio vampiro,oculta-se nas trevas da história.
A busca pelo entendimento desse fenômeno começa pelo seu nome. Ainda que, na cultura de vários povos da antiguidade a figura do sugador de sangue fosse recorrente,o primeiro registro escrito do termo que daria origem a palavra moderna "vampiro",surgiu no ano de 1047 da nossa era na forma de upir. Essa palavra de origem eslava surgiu em uma obra russa chamada O livro da profecia,escrita por Vladimir Jaroslov,príncipe de Novgorod,noroeste da Rússia. Nela um padre era chamado de upir lichy,ou seja um "vampiro hediondo" dado o seu desvio de comportamento.Essa ligação entre o vampirismo e a religião cristã evoca o fato de a Rússia ter adotado o cristianismo oriental em 980 e desde então, a Igreja local se esforçou para banir rituais e crenças pagãs eslavas sobre criaturas vampíricas. Ainda que o cristianismo tenha vencido a disputa pelo poder religioso,o vampiro sobreviveu no folclore do povo eslavo,tornando-se personificação simbólica do convívio conflituoso entre cristianismo e paganismo.

Durante o século XVII,um estudioso de nome Leo Allatius publicou De Graecorum Hodie Quirundam Opinationibus (1645),no qual discutia muitos elementos culturais da sua terra natal,a Grécia,em especial a questão dos vrykolakas,o vampiro grego.Partindo da análise dos rituais da Igreja Ortodoxa Grega em relação aos cuidados religiosos com os mortos, Allatius defendeu a ideia de que os vampiros eram pessoas mortas cujo corpo havia sido tomado pelo diabo. Ainda que a ideia de origem grega do cadáver possuído por um espírito maligno já circulasse pela Europa desde a Idade Média,o obra de Allatius ajudou a dar um novo impulso à ligação do vampiro com Satã,o que favoreceu a constituição de vários aspectos folclóricos relacionados a esta criatura como a repulsa a símbolos cristãos como a cruz e a água benta.

A literatura de ficção vampírica reflete esse fato na sua obra maior: Drácula (1897),do escritor irlandês Bram Stoker. 
"...Os Dráculas foram [...] uma grande e nobre raça,embora uma vez ou outra houve descendentes que foram acusados por seus contemporâneos de terem pacto com o diabo.Eles aprenderam os segredos deste em scholomance [...] onde o próprio diabo ensina." - Van Helsing

Ainda que Drácula tenha sido um divisor de águas na literatura de vampiros,gerando uma série de convenções que foram seguidas por escritores posteriores a Stoker,a origem do vampiro como produto da ação do demônio não se tornou um dos elementos centrais nesta mitologia.
Se o primeiro registro escrito da palavra vampiro pode ser traçada na Rússia do início do século XI como herança do eslavo antigo,o mesmo não pode ser feito sobre a origem do termo no folclore.Essa dificuldade é decorrente da multiplicidade étnica,religiosa e linguística dos povos eslavos,entre os quais surgiu a figura clássica do vampiro com um cadáver que retorna dos mortos para se alimentar do sangue dos vivos. Essa pluralidade cultural se manifesta nos termos uppyr (russo moderno),upir (bielo-russo,tcheco,eslovaco),upirbi (ucraniano), vampir (búlgaro) e upirina (servo-croata) uppier (polonês). 

É fundamental destacar que, ainda que a palavra "vampiro" tenha nascido entre os povos eslavos,as crenças sobre mortos-vivos com as características mencionadas acima estão presentes no folclore de todos os continentes. Tal fato revela um padrão comum entre culturas diferentes em relação a dois elementos centrais da história da civilização e que, consequentemente,tornaram-se chave na elaboração da criatura vampírica: a preocupação com os rituais reservados aos cadáveres e o simbolismo do sangue.



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